sexta-feira, 7 de junho de 2013

Capítulo 7: Escola

Uma ligação no meio da madrugada de Joe confirmando a morte do Mikael não me deixou dormir. Eu não queria ir a escola no dia seguinte. Não, não mesmo. Não era porque era chata como a maioria pensa. Na realidade, estudar às vezes é gostoso pra mim. Mas o grande problema era o que tinha dentro da escola. Exato, alunos. Alunos metidos, preconceituosos, babacas, que não se importavam com o próximo. O bulling corria solto na minha escola, principalmente comigo. "Esquisita" "Morta-que-geme" "Poeira-negra" "Palhaço de cimitério" era alguns dos apelidos que me chamavam. No primário, a única pessoa que eu conversava era o L, até que ele saiu do colégio pra sempre. E aí eu fiquei só. 
 Abri a porta do meu quarto e fui deslizando meus pés descalços pelo assoalho do corredor. Cheguei à beira da escada e fui descendo lentamente segurando no corrimão. Quando cheguei no andar de baixo, todos estavam conversando, mas quando me viram na porta da cozinha, todos ficaram quietos.
Peguei uma barra de chocolate na Coockie Jar. "Descasquei" o chocolate e arranquei dois tabletes com a boca
-Vai comer chocolate de café-da-manhã?!-Disse Misa indignada
Não respondi e voltei rumo às escadas pra vestir o uniforme. à medida que eu subia a conversa retornava lá em baixo.
-Misa, tente não irritar a Kushynna hoje, por favor.-Disse L mechendo o café com uma colher.
-É Misa, a Kushynna perdeu um amigo muito próximo ontem.-Disse Raito passando geléia na torrada.
-Por falar nisso, Raito. Como você soube do Miakel? Tenho certeza que Kushynna nunca lhe contou nada à respeito dele.-L disse o encarando
-Não, ela me contou sim, tem um tempinho atrás. 
-Ah, claro.-L disse num tom sarcástico se voltando para sua xícara de café extra-doce.
-Eita! Misa tem que se arrumar também!-Ela disse intornando o copo de chá na boca e correndo pra escada. Tempo depois, Raito foi também.
Enquanto vestia a saia plissada pensava em como seria minha chegada lá. Meu colégio só ia começar dia 20 de abril (hoje). Ela estava passando por uma reforma, e tentei aproveitar ao máximo as minhas férias, mas esse dia chegou, de novo. Coloquei os sapatos por cima das meias três quartos e coloquei o blaiser por cima da blusa de marinheiro. Sacudi de leve os cabelos e os prendi em um coque meio solto e com duas presilhas vermelhas prendendo uma parte da franja (eu realmente uso muito esse penteado) coloquei a mochila nas costas e comecei a descer as escadas. Entrei no elevador e usei o reflexo no elevador pra me ajudar a passar o lápis de olho. Abriu a porta do elevador e lá vem a Misa. Ela usava o uniforme, era obrigatório, só que ela estava usando uma coleira de espinhos, luvas rendadas pretas, meias três quartos pretas, maquiagem dark e claro, o L como expectador. Dei um longo suspiro para indicar que eu estava ali.
-Vamos Raito!-Misa disse puxando Raito pelo braço em direção à porta.
-Quer que eu te acompanhe?-Disse L se virando pra mim
-Não. Obrigada.-Disse driblando-o e seguindo para à porta. Nesse momento, me lembrei de algo que Mikael sempre me dizia: "Não acredite nos que te decepcionaram. Levante a cabeça e faça-os sofrer mais ainda." Suspirei  e ergui a cabeça antes de passar pelo portal. Eu, Raito e Misa sempre tomávamos caminhos diferentes. Eles iam à pé, com o pessoal popular, menininhas bonitinhas etc,etc,etc...E eu ia de metrô. Sozinha. Antes eu ia com o L, mas aí ele deixou de ir a escola pra sempre.
 Entrei apressada no metrô e coloquei os fones de ouvido. Não era lá muito longe o caminho então fiquei de pé. Estava ouvindo Green Day e não ouvi o grupinho entrar. Três meninas, todas loiras. A manda chuva, a Rikka, sempre maquiada como se fosse à um baile. As outras duas que a seguiam? Bom, o nome eu não lembro, mas pareciam gêmeas da Rikka. Sempre dizendo coisas do tipo "você está linda Rikka" "eu queria ser igual a você" "Me ensina a fazer isso no meu cabelo????" Sei lá, parece yuri...
Passei pelos portões da escola e todos os olhares de voltaram para  mim. Sou muito pálida e magra, confesso que tábua também. Não uso muita maquiagem exeto lápis de olho. Minhas roupas? Bom, não sou muito fã de roupa curta, porém adoro usar shorts com um casaco de manga longa, era minha marca registrada. Meu sapato estalava enquanto eu andava pelos corredores procurando o meu armário.
-129...129...129...Ah! Achei!-Fazia bastante tempo que eu não via meu armário, até esqueci como ele era. Coloquei a senha e quando abri vi um monte de foto e porsteres de animes que eu gosto. Eu era otaku demais da conta. Peguei meu material e fechei a porta do armário. Quando me virei para ir embora o trio das Trix estava na minha frente. Eu achava que estava diminuíndo de tamanho, porque eu não me lembrava delas serem tão mais altas que eu.
-Kushyna.....Quanto tempo né? Bom dia!- Rikka disse com aquele sorriso forçado no rosto
Não respondi e permaneci inexpressiva. Até que uma das capangas (Que mais tarde descobri que se chama Akemi e a outra, a Haruka) Ficou INDIGNADA por eu não ter respondido a Rikka e bateu a mão no armário bem perto do meu rosto.
-Ei!!! Responda a Rikka-sama!!!!
Revirei os olhos como quem pede paciência e disse com uma voz tão baixa que só os cachorros poderiam ouvir.
-Bom dia Rikka.
Rikka cerrou os dentes e me deu um tapa na cara me  fazendo derrubar os livros e cair no chão
-É Rikka SAMA pra você.
Ela saíram rindo e chutaram meus livros pra mais longe. Dei um longo suspiro passando minha mão no rosto a fim de amenizar a dor e fui pegar meus livros. Me abaixei e por alguma questão mágica minha cabeça bateu com a de alguém.
-Aii!!-Disse com a mão na cabeça e levantando rápido.-Quem foi o bastardo que-
Olhei direito e ele levantou o cabelo da frente do olho. Era o Shin.
-Kushynna?
-Oi Shin!-Disse um tanto surpresa
-O que aconteceu?
Olhei levemente pra trás e a Rikka e o grupinho estava tentando extorquir dinheiro de uma galera menor.
-A Rikka de novo?
-Sim...-Disse levemente baixo
-Mas...Vai dar pra ensaiar hoje?
-E-ensaiar?
-Vai me dizer que  esqueceu?!-Ele disse ficando com raiva.
Eu tinha esquecido completamente que eu tinha uma banda no colégio. Era eu (no vocal e/ou na guitarra), o Shin (no vocal e/ou no baixo), o Estavan (na bateria), e o Alex (no teclado e efeitos sonoros). Fazíamos aula de música juntos e a professora falou para montarmos uma banda, sei lá, a quatro anos, e a banda ficou. Se chamava Fallen Angels. Resolvemos dar o nome em inglês, ficaria mais legal.
-Claro que vai dar pra ensaiar. Aqui na escola? É que, meio que tem um estúdio profissional na minha casa.
-Na SUA casa?
-Aloou? Empresa abandonada...?
-Ah, claro. Mas eu não sei...É meio longe...vamos fazer aqui na escola mesmo...E ainda teria que levar tudo pra lá...
-Ok preguiçoso. Vamos fazer aqui depois da aula.
TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMM ~le sinal
-Prova?
-Sim...De matemática. E eu nem estudei...
-Hein? Porque?
-Um amigo meu faleceu ontem.-Completei fria olhando pro nada
-Oh, meus pêsames.
-Bom, eu vou ter que ir.
Já ia em direção ao terceiro andar (minha escola tem 4 andares. O 1º é do fundamental I, o 2º é do fundamental II, o 3º é do ensino médio e o 4º é da coordenação, almoxarifado, achados e perdidos, detenção, etc) quando ele me gritou do fundo do corredor.
-Ôw! Idiota! Seus livros!!
-Hu?
-Toma. Você vai ter uns 7 minutos antes do professor entrar na sala.
-Ah, valeu.
-Idiota...-Ele completou num sorriso antes de dar às costas.
Entrei na sala e realmente a professora não tinha chego ainda. Sentei na 3ª cadeira e tentei absorver o máximo da matéria que o tempo me permitisse. 
 Pouco tempo depois o Raito entrou na sala seguido da Misa. Olhei ele friamente pelo canto do olho contendo as lágrimas. Eu sabia que ele tinha matado o Mikael, mas pra quê? Por quê? Ele não tinha feito nada, nem suspeitava de nada. Estava com muito medo e muito triste. Raito sabia meu nome e podia a qualquer momento me matar. Precisava contar rápido pro L sem que Raito percebesse.
-Bom alunos, quardem os livros e sentem-se. Darei a prova agora.-A professora tinha acabado de chegar. Coloquei minha bolsa frente da carteira e deixei apenas minha lapiseira e caneta na mesa. Massageei um pouco as têmporas para lembrar o máximo possível da matéria. Ouvi um barulho de arrastão de cadeira e percebi que Raito tinha sentado do meu lado. Por que ele tinha que sentar do meu lado?! Olhei pra ele com o canto do olho de um modo tão frio que podia até congelá-lo com a minha visão. Enquanto a professora entregava a prova, pensava no que faria com o Raito. Logo ele entraria em colapso e ficaria fora de controle. Eu tinha que contar isso logo pro L sem que o Raito suspeitasse. Talvez eu devia chamá-lo pra ir ao parque, sei lá.
-Kushynna?
-Uh? Ah, sim professora!
-Estava pensando em que?
Olhei pro Raito de cara e completei se dentes cerrados.
-Em nada professora. Desculpe-me.
Cara, a prova tava difícil DEMAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAIS
DEMAIS,DEMAIS,DEMAIS! Eu realmente tenho que parar de estudar um dia antes da prova...Aquilo parecia hebraico ao invés de japonês. Bombei naquela prova. Fui a 4 ou 5 a entregar e saí da sala de prova de cabeça baixa. Nas próximas 5 aulas eu não falei absolutamente nada. Fiquei rabiscando no meu caderno planos contra o Raito. Finalmente, tocou o sinal da saída e fui correndo pro pátio. Queria sair dali. Ir pro shopping, praça, padaria, farmácia, sei lá. Só não aguentaria mais nem um minuto do lado do cara que matou meu amigo.
-Olha só quem está por aqui.... 
Me virei vendo o grupinho das Trix atrás de mim. Engoli a seco e suspirei.
-Sabe...Eu percebi que você olha muito pro Raito-kun... E você anda muito com ele também.-Rikka disse numa voz doce andando em círculos ao meu redor mexendo no meu cabelo.
-Somos amigos desde os 10 anos. Não sei você mais acho isso normal.-Disse ríspida dando um tapa na mão dela para ela parar de infectar meu cabelo.
Ela ficou um tanto surpresa por eu ter me rebelado e voltou a sorrir. 
-Então...Eu gosto muito do Raito-kun, e parece que você está dificultando as coisas entre nós.-Ele disse desenrolando a mangueira que ficava do nosso lado do pátio.
-Você não devia se preocupar comigo. E sim com a Misa. Ela é muito mais possessiva que eu e-
-Cala essa boca.-Ela disse me pegando pelo cabelo e batendo minha cabeça na parede.-Se não fosse você no meio da gente eu já teria ele pra mim!!
-Mas a Misa-
Ela me deu um tapa e apertou o gatilho da mangueira jogando aquela água gelada no meu rosto. O clima estava uns 15º graus, mas com uma água gelada daquelas a temperatura baixou para -5º. Tentei cobrir meu rosto com meus braços mas a Akemi e a Haruka seguraram meus braços junto à parede. Rikka ria descontroladamente apertando bem forte o gatilho da mangueira.
-HÁHÁHÁHÁ!!! Quem é a mais forte agora Kushynna?
Cerrei os dentes e completei num chute
-Sou eu!!
Chutei a mão da Rikka fazendo com que ela soltasse a mangueira e parasse de jogar água em mim. As clones soltaram meus braços com o susto e completei dando um soco na Rikka fazendo ela cair no chão. Pessoas normais iriam aproveitar a deixa e fugir. Mas eu sou de Capricórnio. Tirei a água do rosto jogando o rosto pro lado e peguei a mangueira. Ri um pouco e direcionei a mangueira pra Rikka.
-Isso cachorra. Senta e dá a pata.
Apertei o gatilho o mais forte que pude mirando o jato de água fria bem no rosto dela. Toda a maquiagem dela estava borrada. Ao longe, os alunos observavam boquiabertos. Acho que consegui tirar o respeito da Rikka.
-"Queria que Mikael estivesse aqui para ver isso"-Pensei, ele também odiava a Rikka. Não era justo! Por que Raito tinha que matá-lo? Ele não fez nada!! ARRRG! Raito ia se ver comigo em casa! Não sei como L não estava triste pela morte de nosso melhor amigo. "Droga, não chora, não chora, não chora" Disse erguendo meu rosto para cima para não chorar, mas algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto mesmo assim.
  Acabei me distraindo pensando no Mikael que nem percebi que um grupo de moleques se juntaram ao meu redor. Abaixei o rosto e tomei um susto ao ver que um deu um chute na minha mão e me fez derrubar a mangueira.
-Eita!-Gritei batendo minha cabeça na parede.
-Como você ousa fazer isso com a Rikka sama?!-Um deles gritou
Ele partiu par cima de mim com os punhos cerrados e de repente tudo ficou em câmera lenta.
"E agora...Perdi?"

Cobri os olhos com as mãos e esperei o soco. Quando de repente ouvi um "Pow" e o barulho de alguém caindo. Ouvi também uns gritos e uma comemoração ao longe. Abri de leve meus dedos para espiar e tinha alguém na minha frente. Quem quer que fosse, usava camisa branca. Não me atrevi a olhar mais e cobri meus olhos novamente, tremendo. Ouvia apenas barulhos de chutes, gritos e comemorações.
Pouco depois, os barulhos cessaram e ouvi uma voz absurdamente familiar.
-Não ousem tocar nela.
Descobri meu rosto, surpresa.
-L..Digo, Ryuuzaki?
Ele virou o rosto para mim e sorriu um pouco.
-Tudo bem com você?
Não respondi, mas afirmei com a cabeça. Rikka tinha se levantado com a ajuda das clones e começou a gritar já com 4 pedras na mão (é apenas um modo de dizer tá)
-Quem demônios é você?!?!
-Sou o namorado dela. E se não quiserem que eu volte, fiquei longe da minha menina.-Nisso ele pegou meu braço e me puxou em direção ao parque.
Eu permaneci a viagem toda quieta, sendo puxada como um animalzinho, pois estava com medo. Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, Mikael morto, Raito e o Death Note, a Rikka que não larga do meu pé, o ensaio da minha banda, e agora o L vem com essa.
Quando chegamos no parque, ele soltou da minha mão e começamos a caminhar para perto das árvores. Estava com um tremendo nó na garganta, mas após um tempo, consegui perguntar.
-Ow...L, porqu-?
-Use meu pseudônimo, por favor.-Ele disse frio olhando pra frente
-D-desculpe... Ryuuzaki, por que você foi até a escola? Você nunca vai me buscar lá...-Disse um tanto quanto melancólica
-Eu não tenho agido direito com você ultimamente, queria apenas me redimir.
-Ah, sim.-Disse, como se não houvesse mais conversa.
Começamos a entrar na ala das árvores. Era muito lindo a essa hora do dia, pois as árvores cobriam quase tudo, deixando apenas feixes de luzes douradas escaparem por elas. Íamos muito ali quando criança, eu adorava ir ali. Fazia tempo que não ia, por isso me trouxe boas recordações. Mas tinha que pensar nisso mais tarde, pois ainda tinha um assunto pendente: Porque ele me chamou de namorada? Será que era tudo fingimento...Ou...? Virei meu rosto levemente pra ele, jogando para o lado as mechas de cabelo molhado e indaguei, o mais firme que consegui naquela hora.
-Ryuuzaki...Porque você me chamou de namorada?
-Era o jeito que achei de fazê-los acreditar, pelo menos assim eles tem medo que eu volte e não te atormentam mais.
-Ah...B-bom,-Disse rindo falso- é que eu achei que-
-Você realmente achou que eu queria ser seu namorado?-Ele me cortou friamente
-"Estou sentindo uma treta!"-Pensei,-N-não, eu só achei que-
(clique no vídeo abaixo agora)
-Sinceramente você deveria raciocinar melhor. Com o seu temperamento explosivo, seu "talento" para se meter em encrenca -Ele caprichou no deboche em "talento"- Sua grande teimosia, e ainda a mania de se achar certa o tempo todo, eu ia querer te namorar?-Ele completou, elevando sua voz muito mais que o normal

 Foi exatamente o que eu senti no meu coração. A cada palavra que ele completava me atingia com um tiro de 50. Mas, o pior de tudo, foi ver a sua cara sem nenhuma expressão, como se nada tivesse acontecido depois de ter xingado sua meia-irmã.



 
Depois, ele saiu andando. Seguiu reto para a saída do parque. E eu fiquei lá, parada, sem acreditar nos meus ouvidos. Cerrei os dentes e levantei minha cabeça para o céu, para impedir que minhas lágrimas caíssem. Meus olhos ficaram vermelhos e ardendo, mas não chorei. Não, depois daquilo, todos os homens seriam cretinos, não deveria confiar em ninguém. Apenas em mim. E no final, uma das coisas que mais doeu, foi perceber que, no fim, a pessoa que tinha me servido de sustentação, me derrubou.